sexta-feira, 22 de maio de 2009

Não é sobre a Páscoa

R: Quantas vezes por ano acontece a Páscoa?

MLK: ...

R: ...

MLK: Que?

R: Quantas vezes p...

MLK: Eu escutei. Não foi um "Que?" não escutei, foi um "Que" que diabos quer dizer com isso.

R: Então quantas?

MLK: Uma! Uma vez só. A Páscoa sempre foi e sempre será um vez por ano, seu *****. Por que acha que não é assim?

R: Quando menos espero entro no supermercado e dou de cara com aquele bando de ovos de chocolate pendurados no teto. Meio sinistro. Todos eles numerados e presos por ganchinhos de plástico e tal. Tipo vítimas do Predador.

H: Pensando bem, parece mesmo que eles estão lá mais de uma vez por ano. Estranho.

R: Exato! O Natal é uma vez por ano, o carnaval também, finados, etc. Mas a Páscoa... passa definitivamente a impressão de que acontece mais de uma vez. É como o...

MLK: Como o...

R: Como o "Aquele Dia que Não Deve Ser Mencionado".

H: Voldemort's Day?

R: Mais ou menos isso. E ******! Falta menos de um mês.

MLK: Ainda dá tempo.

R: De que? De criar uma situação artificial e escolher um "ovo qualquer" só pra passar o "Aquele Dia que Não Deve Ser Mencionado" acompanhado? Não estou tão desesperado.

H: Sim, está.

R: Sim, estou. Mas não é esse o ponto.

MLK: Sim, é.

R: Sim é. Mas mesmo assim não vou fazer isso.

MLK: Por que?

R: Herbert, aperte o "play".

H: Pra já!

http://www.youtube.com/watch?v=CMUkfY0W82U

R: I believe the children are our are future, teach them well and let them lead the way. Show them all the beauty they possess inside...

MLK: Give them a sense of pride to make it easier.

H: Let the children's laughter remind us how we used to be...

R: Everybody searching for a hero , people need someone to look up to. I never found anyone to fulfill my needs...

H: A lonely place to be and so I learned to depend on me.

MLK/H: I decided long ago, never to walk in anyone's shadows.If I fail, if I succeed
At least I live as I believe. No matter what they take from me
They can't take away my dignity...

R: Because the greatest love of all is happening to me. I found the greatest love of all inside of me.

MLK: The greatest love of all is easy to achieve...

H: Learning to love yourself, it is the greatest love of all.

R: I believe the children are our future, teach them well and let them lead the way. Show them all the beauty they possess inside. Give them a sense of pride to make it easier, let the children's laughter remind us how we used to be...

MLK: Wow, wow, wow! Tempo! Mas que ****** é essa?

H: Whitney Houston?

MLK: Eu sei que é a ****** da Whitney, seu jegue. O que eu quero dizer é: o que essa música tem haver com nossa conversa? Nada!

R: Bom, acho que é exatamente isso.

MLK: Exatamente o que?

R: As pessoas acham que precisam fazer sentido o tempo todo. É como o "Aquele Dia que Não Deve Ser Mencionado". Se vc passa ele sozinho, mesmo que por livre escolha, se sente mal. Mas não deveria ser assim.

H: Não deveria?

R: Claro que não. Quando vc deixa alguém entrar em sua vida e entra na vida de alguém, é uma grande responsabilidade. Vc pode machucar e se machucar muito. É uma tremenda responsabilidade.

MLK: Então... mas e se nunca acontecer de novo? Não é melhor do que ficar sozinho?

R: Já amou, Sr.King?

MLK: Oh, yeah.

R: Tô falando sério.

MLK: Sim. Já. Já amei.

R: Então, sabe que não existem substitutos. E sabendo disso precisa se manter fiel ao próprio amor.

H: ...

R: Vc entende agora?

MLK: Herbert.

H: Play?

MLK: Play.

http://www.youtube.com/watch?v=iWO0oNgwXfE

ps.

CG: Olá, meu nome é Crispin Glover. Ahn, o (NOME CENSURADO) pediu pra eu fazer esse "ps". O diálogo acima foi fruto de uma conversa altamente filosófica entre (NOME CENSURADO) e sua amiga Ana Lucia.

H: Adorei ela em LOST.

CG: Outra Ana Lucia.

H: *******.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sliders

Existe uma teoria que toda vez que você lança uma moeda pra cima, vc divide o Universo em dois: em um deles deu cara e no outro deu coroa. Cada decisão criaria um Universo alternativo e isso acontece o tempo todo. Infinitas possibilidades. Conseguem imaginar isso?

H: Não. Quero dizer, sim. Mas não consigo entender. Cabeça dói.

MLK: Qual a praticidade dessa informação? Ainda não jantei e...

E se eu dissesse que descobri um modo de escolhermos em qual destes infinitos Universos podemos estar?

MLK: Eu diria "Woohoo!".

Percepção. Fé. Bastaria a quantidade certa e acredito, realmente acredito, que nossas consciências poderiam passar a existir, na verdade perceber, qualquer um destes Universos específicos. O melhor deles.

MLK: E se vc tentar e não conseguir...

Posso simplesmente concluir que em algum outro lugar existe um Universo onde eu consegui. Ahn, sacaram? É genial ou é genial?

MLK: É genial. Aonde vai? Qual o critério que vai usar para escolher o tal Universo certo?

Hoje, de fato, a menos de uma hora atrás recebi 28 e-mails de 2008. E-mails que eu já havia recebido ano passado. E entre eles, um e-mail da (NOME CENSURADO).

H: (NOME CENSURADO)? Caramba, isso é estranho.

MLK: Não gosto do rumo que essa conversa está tomando.

Se eu acreditar que percepção e principalmente fé é o combustível para essa viagem, como posso negar a importância de coincidências como essa? Agora sabem para onde eu vou.

MLK: Vamos imaginar uma outra situação.

Hm?

MLK: Vc já foi, deu tudo errado e vc conseguiu voltar para exatamente escolher não ir. Essa sua viagem anterior causou o bug temporal dos e-mails de 2008. Uma prova de que tudo isso aconteceu, um aviso pra não fazer isso.

Você já me disse isso.

MLK: Sim. Lá eu também te disse algo semelhante. E o fato de vc ter recebido os e-mails de 2008 significa...

Que eu ouvi e segui o seu conselho, Sr.King.

MLK: Não vá. ESTE é o melhor dos Universos. Herbert, quer me ajudar aqui?

H: As pessoas são a soma de suas qualidades e defeitos, de seus acertos e erros. Tentar corrigir cada coisa é trapacear, é negar quem vc deveria ser. Algumas coisas, algumas pessoas, simplesmente não deveriam ser e por isso vc deve deixar elas irem embora. E se te serve de consolo...

E se me serve de consolo em algum lugar ainda estamos juntos. É isso, não é?

MLK: Então... não vai? Hm, por que está segurando essa moeda?

Calma. Eu ia decidir no cara ou coroa, mas querem saber? Desta vez não vou dividir o Universo. Desta vez a decisão é totalmente minha. O melhor dos Universos é aquele onde as coisas mais importantes não são decididas na sorte. Estou com fome, vou fazer um pudim.

H: Agora essa é uma decisão boa!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

68

Ontem eu tive um daqueles sonhos em technicolor, vc sabe, tão reais que parecem roteirizados. Estavam lá diversas pessoas que foram amigos e amigas minhas. Todas elas, pessoas de um passado recente. Gente que por um motivo ou outro, deixei para trás.

O cenário era um restaurante construído em cima de um desfiladeiro com cachoeiras gigantescas. A água era escura, mas dava para enxergar as silhuetas assustadoras de tubarões gigantes. Sobrenaturalmente gigantes.

Só de relembrar agora, durante o dia, o que aconteceu em seguida me faz literalmente tremer.

Um por um, meus amigos começaram a se atirar pelas janelas. E eu tentava salvar eles mas não conseguia. Eu vi e senti a morte de cada um. E enquanto eles eram devorados vivos pelos tubarões, de alguma maneira, vcs davam um jeito de manter os rostos para cima. Me encarando. E sorrindo.

Eu sei o que esse sonho significa. Eu sei o que são os tubarões. E eu sei porque vcs não aceitaram minha ajuda e porque sorriam para mim. Logo chegará minha vez de assombrar os sonhos das pessoas.

Dizem que segundos antes da morte cerebral um hormônio é liberado (um especial, com essa única e específica função). Ele faz com que seu medo da morte suma. Vc aceita a morte, vc compreende a morte e não tem mais medo dela.

Então, não tenho medo. Mas estou perdendo minha paciência.

Lançamento do meu livro em Sampa!


Em cima da hora, eu sei. Tão em cima que quase eu mesmo não iria. Mas eu vou e espero que vc vá. É, estou falando diretamente com vc. Por isso, tire a mão esquerda do queixo, pegue papel e caneta, e anote na sua agenda. É um encontro. Até lá!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

RICARDO - Terça-feira, 9:30

Acordo cedo para minha segunda sessão. Achei que acordar cedo ia me deixar de mau humor e para minha surpresa, isso realmente me deixou de mau humor. Explico. Raramente algo que espero acontece. O inesperado é o padrão. Algo X deveria acontecer e por um capricho de última hora algo Y acontece. Quando X termina sendo X mesmo, eu faço:

R: Hm.

Pego o metrô, pessoas feias, um monte delas. Procuro a porta. Não para sair, mas para checar o vidro escuro que funciona como espelho. Suspiro aliviado ao ver minha imagem e confirmar que eu até posso estar no meio daquele monte de gente feia, mas não sou uma delas. Certo, sei o que estão pensando. "Cara, vc É um deles e ainda por cima é convencido". Sei disso porque parte de mim pensou isso. Naquele instante mesmo:

H: Cara, vc É um deles e ainda por cima é convencido.

R: Acha?

H: Bom, vc está aqui, não está?

R: Certo, mas... eu sou um acidente, vê? Estou aqui só porque a doutora marcou a sessão nessa hora ingrata. Vai ser terrível! Vou gastar meia hora só falando da experiência que é acordar cedo e pegar metrô. E eu deveria falar dos meus problemas reais! Meus pais e garotas, mas vou ficar falando sobre acordar cedo e gente feia do metrô!

H: Vc está aqui.

R: Não estou. Parece que estou? Não estou. Meu corpo está. Mas meu espírito, ele ainda está na minha cama. Dormindo e rindo de mim. Espírito ******.

MLK: Tive uma idéia. Se achar uma pessoa, uma que seja, fora do contexto é porque sua teoria não é só uma teoria. Tente achar alguém aqui nesse vagão que não se encaixa.

E foi nesse momento que vi... adoraria dizer que nesse momento vi uma garota deslumbrante, vestida de forma impecável, cheirando a perfume de rosas e com o olhar ligeiramente perdido, como se estivesse pensando a mesma coisa que eu. Aí nossos olhares se cruzariam e...

R: Não tem ninguém. São todos igualmente feios, igualmente infelizes, olhe pra cara deles. Dá uma cheirada neles. Não, não faça isso. Eca. Parecem esmagados por alguma força sobrenatural. Nunca vi tanto desepero e... Oh, meu Deus! Eu sou um deles. Eu sou um deles, não sou?

Eu era um deles. Olhei pra imagem no vidro escuro e não havia dúvidas. Mais um infeliz. Mais um. Nada especial, meu lugar era aqui. Acidente eram os outros dias.

D: ...

R: Se eu realmente pensei nisso tudo? Claro! Era inevitável. Estava ali, nem precisei me esforçar muito. Era só... vc sabe, e a voz aqui dentro, ficava narrando a situação. Podemos mudar de assunto?

Meus cachorros estão realçando que viver em casa já não é mais possível. Tenho dois em casa. Poodles, franceses e temperamentais. Adorava eles, mas... não é que eu não goste mais deles. Mas... Certo, vou explicar.

Meus pais já sabem que não vão ter netos. Por isso eles transferem toda sua energia de "avós" para os cachorros. Minha mãe adotou o Calvin que é o mais velho e o meu pai ficou com o Robin. Eles parecem apêndices, nunca se desgrudam. Nem na ficção vejo algo parecido. Vc sabe, quando algum personagem tem cachorro, nem sempre o ***** do animal fica no lado toda hora. Snoopy e Charlie Brown, Garfield e o John, Floquinho e o Cebolinha. A maioria deles tem "aventuras" solo, mas meu pai está SEMPRE com o Robin e minha mãe está SEMPRE com o Calvin. E agora eles deram de brigar. Como? Ah, sim. Os cachorros. Pensando bem, meus pais também.

E para proteger o Calvin a casa está cheia de grades entre os principais cômodos. É como um presídio de segurança mínima. Para eu levar um sanduíche da cozinha para meu escritório são 3 portas e 2 grades. Horrível, sempre derrubo um pouco de café. Todos os meus chinelos cheiram a café.

E como brigam de noite também, acordando a vizinhança inteira, meu pai passou a dormir na sala como o Robin. É ficção-científica. Não entendo como eles podem achar isso normal, fazer tanto malabarismo e sacrifício por causa de... por causa de animais. Pronto eu disse. Eu sou um monstro, ok? Acho absurdo seres humanos sofrerem por causa de animais. Não posso fazer nada, quer que eu finja? Não.

D: ...

Não, eu não sinto ciúmes deles. De quem está falando? Dos cachorros ou dos meus pais? Não importa. Não, o problema não é esse. Vou te contar. Minha avó era uma megera e quando ficou doente, os filhos mandaram ela para morrer num asilo. Na época eu nem pensei muito no caso, mas hj... sabe, a sociedade é nojenta. Vc pode mandar um ser humano, e não um qualquer, mas sangue do seu sangue, para morrer longe de vc. Sim, estou falando de asilos. Vc não quer mais ver, não quer mais cuidar, de uma pessoa... de um ser humano e aí manda ela pra longe. O objetivo é, a msg é, "Ter vc perto de mim além de dar muito trabalho é deprimente, por favor morra e não demore muito, aquilo ali não é de graça, sabe?". As pessoas fazem isso. Mas se uma sugerir fazer a mesma coisa com um cachorro idoso, uau, vc é um monstro. Como pode sequer pensar em fazer uma coisa dessas com o pobre cãozinho! Não sabe que ele sofreria? Que ele morreria de tristeza ao ser abandonado?

R: Minha avó morreu algumas semanas depois. Ela só falava japonês e... Nunca ninguém soube suas últimas palavras.

D: ...

R: ...

D: ...

R: Preciso ir embora.