domingo, 28 de junho de 2009

"O homem no espelho"

H: Por que ficou tão abalado com a morte do Michael Jackson, cara?

R: Ele era mais velho do que eu, Herbert. Mas foi a primeira pessoa que acompanhei todas as fases da vida. Não na ordem cronológica certa, afinal quando vi ele no Jackson's Five cantando "Ben" foi depois, como imagem de arquivo, quando ele começou sua carreira solo e tal. Mas eu VI ele ainda criança, entende? E depois acompanhei cada fase dele, "Billie Jean" todo malucão andando e fazendo as calçadas brilharem com suas pegadas.

MLK: Sabia que "Billie Jean" era sobre paternidade ilícita?

R/H: ...

MLK: She's just a girl who claims that I am the one, but the kid is not my son.

R: E depois "Thriller". Caramba, não tinha internet na época e era uma correria toda vez que a TV passava o clipe. Eu queria ver de novo e de novo.

H: Meu favorito foi o "Smooth Criminal". Sabe aquele troço maluco que ele faz quando o Michael e os dançarinos se inclinam com os corpos retões para frente? Tipo, ângulo de 45 graus? Tentei imitar. Obviamente tombei feito uma árvore e quebrei o nariz.

R: E quando começaram as acusações e ele só aparecia nos jornais para ser ridicularizado... tudo aquilo, só serviu para humanizar ele ainda mais. O que é ser visto por todos como um monstro ou motivo de risos? Como deve ser terrivelmente solitário viver assim.

MLK: A morte deu paz para ele.

R: Não podia ter sido isso em vida? Sei que tem muita gente por aí que vive em paz e não merece.

MLK: Ainda acha que merecimento tem qualquer coisa haver com isso?

R: Não tem, não é?

H: Nos anos 80 o mundo parecia um lugar mais simples e menos... cinza. Tudo que existe hoje existia também naquela época mas, não sei explicar.

R: É como se tudo fosse mais sério agora. Nos anos 80 o mundo era uma criança e agora o mundo é um senhor de idade que precisa se preocupar com coisas reais.

MLK: Ainda estamos falando do Michael?

R: ...

http://www.youtube.com/watch?v=oLXYiF_BdAs

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Vermelho ou Azul

CENA 1.

INT. APARTAMENTO – DIA.

UMA ELEGANTE SALA DE ESTAR. UMA MULHER, 30 E POUCOS ANOS, ESTÁ SENTADA NUMA CADEIRA SEGURANDO UM TELEFONE. ELA ESTÁ TENSA, MAL PARECE RESPIRAR. UM HOMEM, UM POLICIAL DO ESQUADRÃO DE BOMBAS, DEVIDAMENTE PARAMENTADO COM COLETE E CAPACETE, ESTÁ DEITADO DE COSTAS NO CHÃO VERIFICANDO A PARTE DE BAIXO DA CADEIRA.

HOMEM: Alguém realmente te odeia, querida. Mais do que eu. (T) Quando a central informou sobre a ameaça de bomba e me deram seu nome, sabe o que eu disse? (ELE SAI DE BAIXO DA CADEIRA, SE LEVANTA E TIRA O CAPACETE) “Pra quem devo agradecer?”

MULHER: Haha. (T) Então, é mesmo uma bomba?

MARIDO: Alguém retirou parte do estofado, colocou carga suficiente pra destruir este apartamento inteiro e grande parte do seu vizinho de baixo. Não vi nenhum mecanismo de pressão, mas como a carga está acionada... é, é uma bomba sim.

MULHER: E o que vamos fazer?

MARIDO: Você vai ficar sentada quietinha aqui. E eu vou sair e esperar com o pessoal lá fora. O esquadrão de desarmamento deve chegar daqui a pouco.

MULHER: Vai me deixar sozinha aqui?

MARIDO: Meu trabalho está feito. O seu admirador secreto queria que eu viesse e verificasse se é uma bomba. É uma bomba. É isso que eu faço. Agora somente peritos podem...

A MULHER COMEÇA A CHORAR.

MARIDO: Tá tá, eu fico e espero eles chegarem. Mas... apenas não se mexa, certo?

MULHER: Obrigada.

MARIDO: Como foi exatamente que aconteceu isso? Não me deram os detalhes.

CENA 2.

INT. APARTAMENTO – DIA – ALGUMAS HORAS ANTES:

A EXPLICAÇÃO DA MULHER É MOSTRADA EM CENAS PRETO E BRANCO COM NARRAÇÃO DELA MESMA EM OFF.

MULHER (OFF): Cheguei no hotel às dezesseis horas. O telefone tocou, atendi e uma voz que não reconheci disse que sabia do meu segredo e que era pra eu ouvir com atenção. A voz insistia que para me contar o que sabia, eu devia estar sentada.

HOMEM (OFF): Como assim sentada? Tipo “é melhor você se sentar para escutar o que eu tenho pra dizer”?

MULHER (OFF): Isso. Acho que foram exatamente essas as palavras. Então eu me sentei e a voz disse...

VOZ: Se você se levantar a bomba que está na cadeira será acionada e o hotel perderá alguns andares e o mundo perderá uma...

CENA 3.

INT. APARTAMENTO – DIA – CONT.

HOMEM: Perderá uma?

MULHER: Um palavrão qualquer.

HOMEM: Vadia?

MULHER: Isso não é importante! (T) Você está sorrindo? Acha isso engraçado?

HOMEM: Que a mulher que me traiu durante os últimos dois anos está sentada em cima de uma bomba? Estou achando hilário! Que eu esteja perto dela nesse momento? Nem tanto. (T) E essa voz, ele pediu que eu, especificamente eu, viesse cuidar disso?

MULHER: Não há tantos especialistas anti-bomba na cidade.

HOMEM: Mesmo assim. Não gosto disso. (T) Então, qual era o segredo? (A MULHER NÃO ENTENDE A PERGUNTA) Você se sentou, soube da bomba e aí? Ele não te disse qual era o tal segredo que sabia de você?

MULHER: Não, ele desligou. Não há nenhum segredo.

HOMEM: Por que veio para esse quarto? (ELA NÃO RESPONDE) Escuta, não é seu ex-marido falando agora. Isso pode ser importante. Por que veio para esse quarto? A essa hora? (ELA O ENCARA, A RESPOSTA É ÓBVIA O SUFICIENTE) Ah, mas que droga! E cadê ele? Já imaginou que pode muito bem ser o seu encontro secreto que colocou essa bomba?

MULHER: Não é secreto e por que ele faria isso?

HOMEM: Sei lá, quem está sentada em cima de uma bomba e tem encontros com amantes no meio da manhã é você! Se eu... (ELE REPARA EM ALGUMA COISA E SE AGACHA NOVAMENTE, EM SEGUIDA SE DEITA PARA VER MELHOR) Diabo!

MULHER: O que foi?

HOMEM: Um contador. Havia uma tela escura sem nada, mas agora estou vendo um contador. Ligou sozinho.

MULHER: E o que ele está “contando”?

HOMEM: Três minutos.

NA TELA SURGEM OS DÍGITOS “00:03:00” E A CONTAGEM REGRESSIVA COMEÇA “OO:02:59”, “00:02:58” E ASSIM POR DIANTE.

MULHER: Ah, meu Deus, faz alguma coisa!

O HOMEM SE LEVANTA E OLHA PRA PORTA. POR UM MOMENTO, COGITANDO SERIAMENTE SAIR DALI. MAS POR FIM, DECIDE FICAR.

HOMEM: Não vai dar tempo de chamar o pessoal. Vou tentar desarmar isso. A decisão é sua.

MULHER: Qual decisão? Entre explodir ou você tentar desarmar a bomba? Claro que quero que tente! Desarme essa bomba!

HOMEM (SUSPIRA): Tá. (ELE ABRE UM ESTOJO COM ALGUMAS FERRAMENTAS, SE DEITA NOVAMENTE E COMEÇA A NARRAR OS PROCEDIMENTOS) Estou abrindo o painel com a tela. Certo, o painel está ligado, mas a tela continua acesa. (ELE COMEÇA A RIR).

MULHER: O que foi?

HOMEM: Quem armou essa bomba tem senso de humor pelo menos. Estou vendo os clássicos fios vermelho e azul, ligados aos detonadores e a carga. Dá pra acreditar? (T) Eu disse: dá pra acreditar?

MULHER: Sim dá. A voz me disse que haveria esses fios.

HOMEM (AINDA DEITADO, TIRA A CABEÇA DEBAIXO DA CADEIRA PRA ENCARAR SUA EX-ESPOSA): O que?

CENA 4.

INT. APARTAMENTO – DIA – ALGUMAS HORAS ANTES:

NOVAMENTE FLASHBACK EM PRETO E BRANCO. A MULHER SEGURANDO O TELEFONE.

VOZ: Dois fios. Um azul e outro vermelho. Corte a cor favorita do seu marido e a bomba não explode.

CENA 5.

INT. APARTAMENTO – DIA – CONT.

MARIDO: E por que não me disse isso antes?

MULHER: Desculpa, eu estou nervosa! Achei que não fosse importante.

MARIDO: Depois vamos discutir sobre seus critérios do que é e do que não é importante. Muito bem.

A MULHER ESPERA, MAS O MARIDO DELA ESTÁ QUIETO. ELA ESPERA MAIS UM MOMENTO. NADA.

MULHER: E então?

HOMEM: E então você. Qual a minha cor favorita?

MULHER: O que? Você sabe! É a sua cor favorita.

HOMEM: Eu sei qual é, mas a bomba é sua. A pergunta foi para você. Diga, qual é a cor favorita do seu marido? Qual a cor favorita do homem que viveu com você mais de 15 anos?

MULHER: Não faça isso!

HOMEM: Diga!

MULHER: Eu não posso. Eu não sei!

HOMEM: O tempo está acabando! Diga qual é a minha maldita cor favorita ou vamos morrer.

MULHER: Azul! É a cor dos meus olhos. Por isso é a sua cor favorita. Azul, corte o azul!

O HOMEM CORTA O FIO, FECHA OS OLHOS E SUSPIRA ALIVIADO. NA TELA OS DÍGITOS “00:00:01”. ELE SE LEVANTA E OLHA PARA SUA EX-ESPOSA QUE ESTÁ CHORANDO.

HOMEM: Pode se levantar agora.

ELA SE LEVANTA E O ABRAÇA. ELE DEMORA UM INSTANTE, MAS ACABA ABRAÇANDO DE VOLTA.

MULHER: Fui uma idiota.

HOMEM: De sentar em cima de uma bomba? Não, qualquer um poderia cair nessa.

MULHER: Não, estou falando de nós. Eu nunca deveria ter te abandonado.

HOMEM: O que está dizendo?

MULHER: Acho que deveríamos tentar de novo. As crianças sentem sua falta e... eu também.

ELES SE BEIJAM. AINDA ABRAÇADOS VÃO EM DIREÇÃO À PORTA.

HOMEM: Vamos sair daqui. Desarmada ou não, isso ainda é perigoso.

MULHER: Quem será que mandou?

HOMEM: Talvez nunca vamos saber.

CENA 6.

EXT. QUARTO NÃO IDENTIFICADO – DIA – ALGUMAS HORAS ANTES:

NOVAMENTE FLASHBACK EM PRETO E BRANCO. UM HOMEM DE COSTAS SEGURANDO UM TELEFONE.

VOZ: Dois fios. Um azul e outro vermelho. Corte a cor favorita do seu marido e a bomba não explode.

A CAMÊRA VIRA DE FRENTE E VEMOS O MARIDO SEGURANDO O TELEFONE. ELE TIRA UM PEDAÇO DE PANO DO BOCAL (ESTAVA USANDO PARA DISFARÇAR SUA VOZ) E DESLIGA O APARELHO.

CENA 7.

INT. APARTAMENTO – DIA – CONT.

ENQUANTO ELES SAEM, A CÂMERA ABAIXA E MOSTRA A PARTE INFERIOR DA CADEIRA, ONDE PODEMOS VER CLARAMENTE A BOMBA. E O FIO CORTADO. O FIO VERMELHO CORTADO.